No final de 2020, quando o bitcoin era cotado na casa dos US$ 20 mil, a projeção dos especialistas era de que a moeda digital chegasse a US$ 60 mil.
A forte alta já era aguardada porque o ano de 2020 foi de halving, o processo que ocorre a cada quatro anos e que se reduz pela metade o número de bitcoins em circulação.
O halving acontece para garantir que a moeda digital não ultrapasse os 21 milhões de unidades estipulado desde sua criação, o que garante o caráter escasso do ativo.
Historicamente, o melhor ano para a valorização do bitcoin é justamente aquele que vem após o halving. Isto aconteceu em 2013, quando o bitcoin foi de US$ 100 para US$ 1 mil. E também em 2017, quando foi de US$ 1 mil para US$ 20 mil.
Pois bem: em 2021 a expectativa se superou. O bitcoin seguiu sua escalada de alta e bateu o recorde de US$ 64 mil em abril, depois que o CEO da Tesla, Elon Musk, se mostrou um entusiasta da moeda e afirmou que passaria a aceitar bitcoins nas vendas de seus carros elétricos.
No entanto, em maio, a criptomoeda despencou pela metade. Uma sequência de fatos explica o tombo. Entenda.
Uma sequência de notícias duras para o bitcoin
Primeiro, Elon Musk afirmou que a Tesla (TSLA34) não aceitaria mais a criptomoeda na compra de veículos.
Depois, Musk alegou que estava desistindo das criptomoedas porque elas seriam muito danosas ao meio-ambiente. Segundo ele, o chamado processo de “mineração” computacional dos bitcoins exige máquinas de alta potência e consumo excessivo de energia.
Para completar, bancos e empresas da indústria de pagamentos da China emitiram um comunicado ao longo da semana, alertando as instituições financeiras a não aceitarem bitcoins nas negociações, pelo risco elevado da moeda.
Depois de cair ladeira abaixo, a moeda votou a estabilizar na casa dos US$ 40 mil na sexta-feira (21). Mas persiste a pergunta: o que está acontecendo com o bitcoin? E mais: vale a pena investir nele mesmo assim?
Bitcoin ainda vale a pena?
Na opinião dos analistas, o bitcoin segue valendo a pena, como mais uma opção entre tantos ativos.
A questão é o quanto de volatilidade o investidor aguenta. Afinal, como ficou exemplificado nesta semana, o bitcoin é mais recomendado para os que têm nervos de aço.
Para André Machado, professor e co-fundador do Projeto 10%, uma palavra define bem o que aconteceu ao longo da semana: especulação. E quando ela é feita por um influenciador de peso, o resultado é ainda mais impactante.
“A meu ver, o trader Elon Musk faz manipulação pura. As criptos vêm caindo desde que ele insinuou que iria se desfazer de seus US$ 1,5 bilhões de bitcoins. Quando ele comprou as moedas digitais elas tiveram uma forte alta. Da mesma forma, sob ameaça de venda, o valor cai”, resume.
Para ele, Elon Musk é o símbolo da disruptura, da inovação e do empreendedorismo. O que se encaixa perfeitamente na visão dos entusiastas do bitcoin. E isso explica o poder de influência que exerce sobre os investidores.
Já para Safiri Felix, diretor de Produtos e Parcerias da Transfero e especialista em criptoativos, o episódio recente de queda dos bitcoins é apenas mais um dos muitos já enfrentados na história da moeda.
“A perspectiva para 2021 continua positiva. Se você comparar a cotação atual com a de um ano atrás, a valorização é de mais de 250%. Então, primeiro, é preciso colocar as coisas em uma perspectiva correta”, ele explica.
“O que acontece hoje é um ajuste, que já aconteceu diversas outras vezes. A volatilidade é uma constante para o bitcoin. Ela pode até diminuir, mas volta de tempos em tempos”, complementa.
Quanto a Tesla deixar de aceitar bitcoin na venda de seus carros, ele afirma que isso ocorreu simplesmente porque nenhum veículo foi comprado utilizando a moeda como meio de pagamento.
Das questões ambientais alegadas por Musk ele discorda: “Cerca de 75% da energia utilizada na mineração dos bitcoins vêm de fontes renováveis. O argumento não faz sentido”.
Por fim, as proibições da China, ele avalia, não trazem nada de novo. “Só reforçam proibições já impostas anteriormente”.